Os desafios para a Igualdade de Gênero no Cooperativismo

Está na base do sistema cooperativista o ideal de promoção de uma sociedade mais justa e igualitária. Não apenas em termos econômicos, a proposta do Cooperativismo consiste em propor à sociedade um modelo de participação democrática, em níveis de decisão e de participação dos resultados, e com vistas a proporcionar inovação e desenvolvimento para toda a comunidade.

Dessa forma, é imprescindível que os negócios inspirados no Cooperativismo sejam, eles também, reflexo da sociedade. De acordo com a PNAD Contínua, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil conta hoje com 51,1% de sua população composta por mulheres – são aproximadamente 4,8 milhões de mulheres a mais que homens. 

Mesmo sendo maioria na sociedade brasileira, as mulheres não ocupam na mesma proporção as organizações cooperativistas. Dados do Anuário Brasileiro do Cooperativismo apontam que, em 2021, mais de 18,8 milhões de brasileiros eram cooperados – um aumento expressivo em comparação com 2019. Desse total, apenas 40% eram mulheres em nível nacional, e apenas no estado do Ceará a participação feminina no quadro social das Cooperativas supera a masculina.

Em termos de empregados dessas instituições, a igualdade de gênero está um pouco mais próxima de ser alcançada. Em 2021, a força feminina representava 49% do total dos funcionários das cooperativas – 14 pontos percentuais a mais que em 2020. A maior parte encontrava-se em cooperativas nas áreas de consumo, saúde, produção de bens e serviços e crédito.

A mesma força feminina que está à frente da força que conduz o cooperativismo no Brasil não se reflete nos cargos de liderança. Mesmo com mudanças implementadas aos poucos nas organizações, as mulheres ainda enfrentam barreiras para ascender profissionalmente. No cooperativismo brasileiro, em 2021, apenas 20% das mulheres ocupavam posições de liderança nessas organizações. Nas áreas de Transporte, Infraestrutura, Crédito e Agropecuária, a participação feminina nos cargos de presidência se quer alcança esse índice.

Não é possível realizar um sistema efetivamente democrático e capaz de promover uma sociedade mais justa sem que se esteja atento à igualdade de gênero. Neste sentido, os dados do Anuário revelam os avanços necessários para tornar o sistema cooperativista mais justo e alinhado aos princípios que tornam o modelo tão necessário em nosso tempo. Sem uma efetiva igualdade de gênero, não é possível pensar – e propor – um Cooperativismo real.