Antes de começar o texto, façamos um exercício mental. Pense em uma pessoa que tem muito sucesso no seu dia a dia profissional e consegue fazer uma ótima gestão na sua organização. Pensou? Agora, mentalize uma pessoa que, no seu dia a dia, tem muita sorte nas decisões adotadas.
Se você pensou em duas pessoas diferentes, sendo uma delas um homem de negócios e outra uma gestora feminina, não estranhe. De acordo com uma pesquisa desenvolvida pela Lodon School of Economics, grande parte das pessoas confundem sorte com habilidade – e isso é mais acentuado quando se observa pela perspectiva de gênero.
Faz parte da nossa construção social conceituar o sucesso enquanto uma característica masculina. Isso se traduz até mesmo nas expressões cotidianas que utilizamos. Supermulheres, mulheres guerreiras ou dama de ferro são apenas algumas das nomenclaturas que acusam um caráter majoritariamente masculino ao sucesso. Isso implica, por exemplo, que conquistas de homens são comumente mais vinculadas às habilidades inatas para a carreira.
Já para as mulheres, o sucesso é observado para além de uma característica própria – elas dependem da sorte. Por vezes, parece inesperado e surpreendente quando mulheres conquistam sucesso em suas carreiras. Uma visão misógina de que espaços de gestão não devem ser ocupados por mulheres.
As consequências dessa visão deturpada afetam diferentes esferas cotidianas no dia a dia profissional. Além de servir como recurso para a manutenção da discriminação de gênero, ainda apoiam a diferença salarial entre homens e mulheres. Afinal, sorte não exige necessariamente um esforço para o sucesso.
Esses discursos contribuem para um julgamento e cobrança excessivos para com gestoras femininas. Desta forma, quando uma mulher comete um erro, a probabilidade de receber críticas mais contundentes se acentua – incluindo posições que destacam a falta de habilidades no gerenciamento de negócios.
Em via contrária, homens podem ser desproporcionalmente recompensados pelo que é visto como uma habilidade deles, sem pesar os fatores ocultos que contribuem no seu sucesso profissional. A sorte, neste sentido, atribui uma medida bem inferior, mesmo que ela seja decisiva por vezes.
É fundamental entender que habilidade e sorte não são exclusivas e nem pertencem a gêneros próprios. Qualquer pessoa pode – e, em determinados momento precisa – conciliar habilidades e sorte no momento de conduzir negócios. Líderes estratégicos sabem reconhecer esse efeito conjunto, seja no sucesso ou no fracasso.
Construir uma nova visão de como habilidades inatas e sorte interferem no dia a dia profissional é urgente para que a pauta da igualdade de gênero possa avançar na sociedade. Afinal, estereótipos não contribuem em nada para o sucesso de negócios e são atrasos para conectar às necessidades do século XXI com as práticas organizacionais.